Joguei fora tudo que me prendia
Joguei fora as gravatas, sapatos e algumas camisas
Joguei fora um par de versos e muitas expectativas
Lancei ao vento meus documentos, cartas, fotos e a falsa alegria.
Mas não fiquei mais leve, nem me senti mais livre
Na verdade joguei fora o que já não me cabia
Porque ao que me parece
Na verdade era eu quem me prendia
É um erro grotesco o que cometo nesta escrita. O tempo verbal mal aplicado remete a ideia de passado e faz parecer que já não me assola o que antes me afligia, sou tão livre quanto era antes.
Escravo da minha própria agonia.
Categoria: Equilíbrio
Boca
A boca corta o silêncio, apenas a tua, toca fere e afaga.
O cheiro (perfume) que ela exala, ela a boca, como em um feitiço. Desnorteia
Os lábios tanto os de baixo quanto os de cima aprisionam o prisma dos meus pensamentos.
Debaixo dela todo o corpo, ao qual me atrevo a chamar de resto se há aqui a carência da comparação.
Seja ela eterna na doçura ou na vingança (vulgar), nos cantares ou mal dizeres amo-te toda em teus palavrões ou muda em teus afazeres
Cachoeira
Aqueles olhos castanhos
de cachoeira (Musgo)
Já não são de todo(s) negros
(escuros)
Olhos que devoram
São agora janelas escancaradas
e a boca, voraz (assas) devora
Morde não apenas com os dentes
que são de todo(s) afiados
mas também com palavras
Olhos castanhos e musgos (mudos)
em um corpo e uma alma que falam
Tudo!
Guarda-chuvas
Amor é coisa comum, coisa simples e corriqueira,
Coisa rasa, sem por quês
Complicado é guarda-chuvas que varia de cor e acionamento
Não entendo por que tanto alarde, o medo de dizer que ama.
Ame quem estiver na sua frente, mas seja breve,
assim sobra tempo para escolher a cor das camisetas.
Espaços
Entre os paços nas calçadas, espaços (entre aspas)
Algumas pessoas passam, outras se vão
Entre os cantos dos móveis, o vazio
Sempre há um vão
Algumas pessoas passam, outras sempre se vão
Entre bichos e rabiscos de gente
Figuras, retratos (papéis e folhas)
As pessoas sempre passam, Algumas se vão
Entre as pessoas que passam, os espaços dos móveis
e o vazio das calçadas; Uma única certeza me resta
Todas as pessoas passam e inevitavelmente se vão
DESTILA
Dentre todos os venenos que já provei,
dos mais doces aos amargos
impera a tua saliva que entre rabiscos e afagos
ainda me engana.
- Dentre todas as armadilhas são sim tuas artimanhas
que me selam a voz e a minha respiração
atravessam a garganta e me saltam os olhos
me roubam o sorriso e me soterram na introspecção.
REVERSO
Do sabor lascivo que me embota a boca ao calor furtivo que me ata à forca Há um intervalo frijo à cercar roca tecendo o fino fio dessa existência oca /--------------/ São rajadas que me escapam pelos olhos embrazados como dois sóis, flagelo do que vejo Mas escondem águas mornas que não encantam, indigno ensejo Já não sei se sou a fúria plástica que ama o próprio desejo ou uma criança cega desejando tudo que vejo.
FAMÍLIA
Desata o nó e a corda densa onde pende o quadro alheio a dança Cansa... Cessa o coro, de volta a trança É fria a vaga labuta É eterna a rija trança duas das cordas me custam a estirpe A outra carrego presa ao ventre Sangra... As luzes e as vozes não me pesam mais que o físico O real é sempre mais amargo, intenso, vivo anseio esquálido teu doce alento para que breve seja a algoz liberdade. Que repouse fresca ao meu lado a amarra e eu encerre firme tão inútil batalha.
CAPITAL
Na enorme cova que a nós sepulta da alvorada da vida ao leito de morte opção não resta se não a fria luta para aqueles que dela nâo herdaram a sorte Se há quem ostente de abastado a alcunha é porque padecem outros para lhe ornamentar as vestes pobre o "cavaleiro da triste figura" empatia crua a emoldurada em preces Segue a prole a sangrar em vida enquanto de cima vangloriam-se os porcos mas há de bradar antes que finde-se a sina o povo desperto, "Felicidade ou morte!"
BRISA
Devolvo a ti todo amor que possuo, digo devolvo porque não posso dar o que não fiz senão herdar, já que não houve escolha. Cubro-te com minhas promessas que embora poucas são o que tenho, Apenas elas... Travo comigo uma enorme batalha para não adorna-la com os clichês que o amor me pede, daqueles que todos os amantes dizem as duzias... Para você não, você não merece menos que o inédito... O que é metade não lhe cai bem Você quem reescreveu meus dias de maneira terna e que transmutou meus abismos em quietude e minhas diligências em conquistas... De olhos fechados repouso sobre seus braços porque entre todas as certezas, a unica que me convém é que de mim, teu por inteiro, seja feita apenas a tua vontade.