Equilíbrio

Um castelo de cartas sobre a mesa
Sobrepostas
Opostas
Uma gatilho, um arranha céu,
Um amontoado de vergalhões, amarras
Treliças
Cartas suspensas, empilhadas, formando da base ao topo o trunfo da entropia
Um edifício de papel
A queda eminente sobe esôfago acima com violência e explode na garganta
É ali, bem nesse ponto onde as cartas equilibram-se, enquanto caem num lampejo de descuido
Arranha céu

Luau

A chama já não me arde as palmas e nem a água me refresca,
Repouso inerte, eu e eu.
Sentado a beira da fogueira ouço as vozes já irreconhecíveis, o vazio ocupa os assentos ao meu lado.
Costumavam estar ali vozes amigas, o aflato e o clarão ao centro.
Já não consigo ver as cinzas e nem me engasgar com a fumaça, me restam reminiscências, eu e eu.
O vazio, até ele é decorativo, de caráter meramente ilustrativo me diria um capitalista. Mas não passa de uma sombra do que poderia ter sido, de quem ou o quê, são muitas as conjecturas e pouco, muito pouco é o de fato.
Me resta aquecer-me a sombra de cinzas invisíveis das quais desconheço a textura.
Me resta o que me cabe, minha pedra dura onde repousar as sombras de uma clareira sem luz e sem aquele a quem me dirigir pura divagar sobre o tempo.

Crise

Amo-te e de amar-te dói
Dói-me os suspiros, respiros e os sóis
Dói-me as alegrias, festas e toda sorte de harmonias feitas para me alegrar.

Amo-te e a distância desse amor me fere
Cega-me como a um congênito que nunca viu
A cegueira crua de quem nunca nem com os olhos ou o tato pôde sentir do outro toque algum, gesto ou imagem que seja que aplaque essa solidão inescrupulosa.

Amo-te e teu amor ou a ausência ou a distância dele me ferem, me machucam, mas que escolha tenho eu se nada posso ver ou sentir além de tua ausência.

Eu vassalo dessa deficiência, desse viver e não sentir clamo para que também me ames, para que sejas novamente meu sol, meu farol, minha guia.

Saudade

Sonhei com você essa noite
Não quero voltar a dormir
No meu sonho comíamos, bebíamos e fazíamos amor muito amor, éramos dois adolescentes mas pasme, nos casamos e éramos felizes, apesar de muito jovens você repetia um mantra para mim, “Finalmente estamos juntos” e eu dizia, “dá para acreditar?!”.
Sonhei com você essa noite e nem quero mais voltar a dormir, nada que eu sonhar agora, de hoje até o fim da minha vida, me fará tão completo, tão pleno, tão vivo, nada me fará mais feliz, por uma noite você foi minha mulher.
Sonhei com você esta noite e não quero voltar a dormir…

Sorriso

Há toda sorte de paraísos..
dos mais largos aos mais íntimos
Há aqueles que de tão largos nos pesam carregar, pois como disse o poeta o que não é fado é fardo.
Há também aqueles que de tão estreitos cabem nas mãos, numa troca de olhares ou num sorriso despretensioso.
É em um desses, estreito porém infinito que eu acordo todos os dias.
Há na vida abismos, isso não há de se negar, e como disse o filosofo: quando você olha para o abismo ele te mira de volta, porém
Para não ser pedante e devagar demais, quero deixar registrado nesses versos, que para quem tem paraíso como eu tenho estreito e eterno, não há abismo que me meta medo. porquê o amor tem desses clichês, mas o que seria de nós sem a natureza do óbvio. – Para Miriã Lima

Acaso

Quem dera fosse apenas amor,
Assim eu mesmo trataria de sufoca-lo
quem me dera fosse a carne que em rompante de domínio me fizesse seu refem.
Quem me dera fosse o acaso, neste pequeno caso em particular, o responsavel por tamanha distância
Quem dera fosse omtem, e eu ja não lembrasse e com isso talvez não sentisse.
O que dói é o agora, é a certeza do intransponível, do intocável
Eu me viro com o que me resta, desse amor carregarei a marca do eterno e do impossível. do calor e da leveza. do querer e não poder. – Para Cris

Vazio

Eu procurei entre os versos perdidos palavras, frases e dizeres
Cousa de natureza qualquer tirar alguns versos, mas versos sem endereço, sem utilidade ou destino.
Procurei na aleatoriedade das palavras cotidianas, conjuntos que formassem frases e frases que formassem musica, poesia ou qualquer outra das inutilidades da vida.
Mas sem perceber entender ou me participar me peguei surdo, dos olhos e da alma, nada do que fosse dito alimentava a minha frívola aspiração. eu desisti, como quem se cansa de brincar com uma criança ou um cachorro, me cansei com peso na consciência e a sensação de quem desiste facil. mas que fazer quando as palavras não falam? eu pela preguiça ou pela falta de tato me calo, e não há como remediar um desertor

FOGO

FOGO

De alma despida e os olhos brilhantes, sua sutileza quase que imperceptível, me arranca o folego e me faz duvidar o indubitável. que mulher é essa que sem proferir palavra alguma diz tudo que pode ser dito?
Eu na minha fragilidade, pra não correr o risco da prepotência não me atrevo a me dizer humilde, mas me sinto pequeno quando ao seu lado.
Queria eu adorna-la com os clichês que todos os amantes decoram, mas você só merece o inédito. Você é viva, por dentro e por fora e na sua voz sua vida transborda.
E é nesse ponto, nesse tênue ponto onde eu decido afogar-me enquanto possível.

Dedicado á Ana Carolina

Tormenta

Há na pele feridas tão duras quanto as da alma, alma de quem?
Há na alma uma pele que de tão dura cerra a palma, punho.
Não há remédio para o irremediável, talvez por isso os poetas são tão repetitivos, no equívoco de explicar o que não se traduz acabam por se repetir, na vida e nas palavras
O repertorio é restrito e a dor é ampla
mas o poeta tenta, enquanto ostenta sua inabilidade de enfrentar as dores que a caneta não resume