Escuridão

A escuridão que penetra os olhos não permite traço algum de luz
O que haverá do outro lado?
Posso sentir o som das trombetas uivando em seu grotesco uníssono
São paredes que me cegam os olhos? Tateio em vão. Não há sinal de muro ou teto. Talvez o imenso breu do qual reclamam meus olhos, seja apenas um gesto de introspecção. Sou eu o meu próprio abismo, sou eu todo escuridão

Dispersa

Joguei fora tudo que me prendia
Joguei fora as gravatas, sapatos e algumas camisas
Joguei fora um par de versos e muitas expectativas
Lancei ao vento meus documentos, cartas, fotos e a falsa alegria.
Mas não fiquei mais leve, nem me senti mais livre
Na verdade joguei fora o que já não me cabia
Porque ao que me parece
Na verdade era eu quem me prendia
É um erro grotesco o que cometo nesta escrita. O tempo verbal mal aplicado remete a ideia de passado e faz parecer que já não me assola o que antes me afligia, sou tão livre quanto era antes.
Escravo da minha própria agonia.

Boca

A boca corta o silêncio, apenas a tua, toca fere e afaga.
O cheiro (perfume) que ela exala, ela a boca, como em um feitiço. Desnorteia
Os lábios tanto os de baixo quanto os de cima aprisionam o prisma dos meus pensamentos.
Debaixo dela todo o corpo, ao qual me atrevo a chamar de resto se há aqui a carência da comparação.
Seja ela eterna na doçura ou na vingança (vulgar), nos cantares ou mal dizeres amo-te toda em teus palavrões ou muda em teus afazeres

Felina

Eu costumava me ser bom com as palavras,
Das mais simples as mais arrojadas,
Elas fluíam…
Com a sua violência eu perdi o dom da fala, já não me importam as palavras, só me resta o que eu sinto.
Digo que me resta, porquê depois de você não me sobrou mais nada.
Você levou minha memória, minhas expectativas, minhas aspirações e certezas.
Nada é como era e nada está como estava, depois de você, só me resta viver sem palavras. Porque o fôlego se foi, em meus pulmões, furacões… e os ventos, todos tem seu perfume, seu cheiro.
..ventos que sussurram a sua voz. Pode ser loucura, devaneio mas acho que ando perdido na escuridão das suas palavras, porquê essas me sobram e me transbordam os ouvidos

Novo dia

Era para ser mais um dia como outro qualquer
e com efeito, foi
As diligências da natureza humana ainda não haviam me ocorrido,
enquanto eu solvia meu café como de praxe,
não me vinha a cabeça a maldade alheia,
a inveja dos meus pares ainda não me tocava as ideias,
o azedume dos vizinhos, a má vontade dos colegas de trabalho
e toda a cera vinda dos outros ditos amigos
ainda não alcançavam meus ouvidos
mas como de costume eu parei…
Sei que não devia, não é preciso ser o rei dos ditados
pra saber que de pensar morreu o burro.
E quando parei, como que em uma enchorrada, tudo me veio aos olhos
e como qualquer um com o minimo de perspicácia pode deduzir
é difícil não se abater com a realidade.
Um dia que começou com uma xicára de café e um punhado de desatenção
terminou como qualquer outro.
Eu de pé por ser obrigado a estar e com o coração assim como
as idéias em farrapos como se é devido a quem tem os pés no chão.

A blind man with eyes on the back

All the time,in my whole life
the things had been gray
But i don’t care about this
Cause i’m blind man
I’m a blind with eyes on the back

I always look around
probably, you should look around too

I can’t see, but i always heard the time
The stars came down and
i don’t really knows that it means
If i ever had been alone
and nobody cared to me
i also don’t know what it means

I listen the sound of of dead stuffs
it makes me feel great about myself
Maybe the life gonna away
but as i can’t see
I don’t care about fucking things.

MENINA

 

Eu te dei todo amor que me cabia,
e você?! optou por deixar que ele vazasse a esmo,
líquido e incolor.
Pobre menina dos olhos de vidro…
Turvos como estavam, seu pequenos olhinhos
não perceberam a fonte se secando e o gosto
esvairindo-se.
Eu te dei não só meu amor.
Te dei tudo que cabia em mim
Você poderia ter bebido direto da fonte, mas não bebeu
agora nos resta juntar os fiapos num saco e seguir
como se a oferta nunca tivesse existido
será mais digno para mim que escorri torneira abaixo
e para você que afogou-se no desperdício.

Tempos Modernos

Éramos felizes na nossa tristeza
tudo que veio depois aceitamos.

Como aceitamos um aperto de mão, mais um biscoito
ou um tapinha no ombro.
No começo pensamos: Não há de ser nada!
Mas com efeito, foi!
O tempo sempre encarrega-se de solidificar os nossos pesadelos
a distância, o silêncio, o vazio
Todos nós carregamos os nossos abismos
O que muda é a mochila
A dos outros parece de rodinha e as nossas com alças de corrente
Mas não há de ser nada, penso eu.
Sempre haverá com quem revezar a maldita carga